Quando Cecília se mudou para São Paulo foi morar em Santa Cecília. Às vezes, entre as vastas horas em que se sacrificava no violoncelo, detinha-se numa identificação profunda com a santa: Sentia a voz sair límpida na garganta sufocada, os golpes de espada que não impediam a canção e a dor entrelaçada de seus próprios dedos já trêmulos no fim do dia.
Talvez por isso atraísse anjos novamente para si.
E depois de tantos anos eles voltavam ainda mais travessos que nunca, Cecilia mal podia dormir com o barulho de asas em sua janela e a bagunça que faziam em sua varanda.
Uma noite, a ansiedade da prova da orquestra e a solidão da metrópole despertaram uma profunda revolta: Para o Inferno com aqueles Serafims safados! Envolta por maquiagem sombria e seu vestido mais indecente ela partiu decidida a flertar com os demônios.
E a noite se abriu na fartura de pétalas gordas, evocando nela um perfume inebriante de amor abandonado.
(imagem de Barbara Rogers)
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2 comentários:
Ou...esse ficou foda...
por que será que tenho sentido uma solidão tão profunda nos seus contos...quase em todos...não sei explicar...as personagens exalam aquela solidão inerente ao ser humano...lindo!!!
Sou obrigada a concordar com a Marie... tudo de bom mesmooooo!
bjo!
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