Poucas pessoas restavam no cemitério quando Luana começou a roubar as flores dos túmulos. Josué não entendia, apenas compactuava em silêncio. Perante aquela mulher o rapaz metido a valente nas rodas de cerveja se tornava uma criança.
_ E para quem são essas flores?
_ Para nós, querido...
Josué engoliu seco, apesar de sentir calafrios aquelas palavras enigmáticas o excitavam como nunca. E para todos o único motivo pelo qual Josué se envolvera com aquela mulher era para provar sua valentia, já que todos comentavam que Luana atraía a morte para seus amantes. Na realidade não era o gosto por aventuras que levara o rapaz a ela, mas uma atração por seu porte sereno e altivo misturado a uma paixão de infância por Mortiça Adams.
Já eram tantas flores que deixavam atrás de si uma trilha de crisântemos e cravos amassados. A noite comia as lápides quando pararam em frente um túmulo. Luana acendeu velas, era o túmulo de Jorge, o ex-noivo que morrera estraçalhado por cães ao pular o muro errado na tentativa de fazer uma serenata.
Ela forrou todo o espaço com as flores e ordenou que Josué se deitasse. O moço já sentia pitadas de pavor, mas deixou ser conduzido pelos dedos quentes e logo se amavam sobre as flores. Perdido em gozo, medo e perfume ouviu um tilintar.
_ Não se preocupe, são os ossos de nossos amigos...
Dois acordes do violão de Jorge: ao redor do casal os mortos viam espiar os amantes e buscar de volta suas flores. Josué suou frio tentando asfixiar sua covardia ao ver tantas caveiras dançando alegres. Nem reconheceu vó Bentinha, Marcão, o velho Juvêncio, entre outros defuntos conhecidos...
Tão pouco se divertiu em sua festa de boas vindas!
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
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