quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Antologia 2008



Como ano passado, no último dia do ano apresento mais uma antologia Fast Fábula, revelando os quinze melhores textos deste ano segundo meu gosto. Desta vez não serão somente contos, já que muitos de meus preferidos são esses fragmentos que classifico como divagações. Assim, quem chegou atrasado poderá ver o que melhor temos a oferecer:
Desta vez por ordem de aparição:
1- Noturno
2- Epifania
3- O salmão e o grande amor.
4- Amor eterno
5- Banho violeta
6- Uma donzela
7- Cantilena torta
8- Ouro de tolo
9- Fumaça fria
10- Ciranda: Syd
11-Toni & Berto
12- Cada dia
13- Terceiro ato
14- Queridas quimeras
15- Dona aranha
Não incluí nesta antologia nenhum dos capítulos de Cecília, já que deixaram de ser histórias isoladas.
Um 2009 maravilhoso para todos... cheio de sonhos fabulosos e devaneios!
Para janeiro já estou preparando muitas especialidades... minhas férias no Rio estão sendo inspiradoras, este anjo da imagem faz parte dos souveniers...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Curtas de meio de semana VI


1 – Como estou de férias na casa de meus pais somente uma grande preocupação me assola: engordar!
2 – Em companhias ótimas para momentos de ócio. Nas horas de silêncio estive em longos debates com Thomas Mann e o jovem Tadzio, para as horas de som finalmente encontro a Gnossienne no. 1 de Satie e descubro que foi composta para mim.
3 – Parece que a Brasil tá se afundando em chuvas... o que pode acabar com a vida de muitas famílias dignas e meu réveillon em Copacabana.Vamos fazer um grande sacrifício aos deuses e santos da chuva? Acho que estão com fome...
4 – Algum(a) adolescente virgem à disposição?
(se não aparecer ninguém vou sacrificar papai-noel mesmo, aquele gordo safado daria uma libação e tanto)

5 –Feliz Natal!
(Na imagem Valentina atacando a árvore de Natal)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Dona Aranha


Ela permanece em sua teia, resignando-se ao canto escuro daquelas paredes. Nos bons tempos fora uma teia de bordados intricados e maravilhosas rendas que atraía amantes voluptuosos.

Hoje é o covil de uma madame decadente.
Antes era teimosa e agora nada sente.

Depois de tantas quedas permanece para sempre quieta e obscura, sem vontade, desejos e ambições maiores do que não sair mais dali. Eventualmente alguns pobres diabos caem em sua teia, somente moribundos e loucos perdidos que ela devora por hábito antigo.
O rito automático duma devota caduca.
Nem mesmo a fome pode movê-la de sua própria e ingrata companhia.

Já passou a chuva
o sol já tá surgindo
e a Dona Aranha não consegue mais subir.

(não sei a autoria da imagem)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Eco


Terá alguém aí?


Esse blog anda tão vazio que nesta última semana até eu estive deixando de lado. Não que chegasse a ter vontade de abandonar, mas estou com um pouco de desleixo... preguiça de inventar coisas com tanta coisa para arrumar para as viagens, tanta coisa pra assistir na cidade antes de partir, tanta vontade de não fazer nada além de apreender a inevitável morte de coisas que cada ano acumula. Mais um monte de cacarecos para o quartinho de despejo.



Pelo menos por enquanto ainda escuto a minha própria voz...


(ah... um quadrinho do Bosch, que por sinal era o tema do cabeçalho do blog ano passado. Só pra aproveitar um pouco da onda nostálgica que o fim-de-ano traz)



quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pés de fogo

Quando a coisa pegou fogo Vânia pensou em sua avó dançando sobre brasas. Era uma lembrança forte: a velha não somente provava sua fé para toda a cidade como era ainda capaz de debochar daquele chão de fogo. Depois mostrava orgulhosa o pé intacto de queimaduras a uma multidão espantada. Quando morreu quase virou santa! Vânia então reergueu a cara estapeada de um chão frio e simplesmente dançou até que das faíscas de seu salto brotassem chamas. Arderam consigo todos que estiveram ao seu alcance.

(imagem de Matisse)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Queridas Quimeras (III)


Restam então as mais loucas, que são as duas filhas da escriba. Metem-se no meio de qualquer devaneio que encontram e se entregam apaixonadas. Suas cabeças nascem e morrem de uma maneira espantosa, até bichos diversos de bodes ou dragões já surgiram dessas almas incontroladas. Uma delas se diz cineasta, roteirista, às vezes até se mete a publicitária e irrompe aos gritos porque alguma nova idéia mirabolante explodiu. Sua irmã gosta de teatro, mas não sabe ao certo qual seu papel... no fundo quer ser grande poeta trágico e coleciona caveiras, embora sinta um desejo delirante de estar sempre no meio do palco. Juntas brincam de bonecas e fantasiam o parto de mais mil quimeras.
Então eu penso em matá-las! Deixar que meu caminho não seja mais atacado pelos humores escandalosos dessas minhas queridas. Planejo e sonho armadilhas mesmo quando estou iludido, mesmo tomado pelo medo da solidão infinda sou capaz de gargalhar no meio da noite enquanto as quatro dormem em sonhos concretos. Nestas horas sinto minha cabeça de bode coçar, um arrepio na penugem de fera e no espelho ignoro a grande verdade estampada, tão nua e crua.
As outras então se entreolham com malícia e crueldade, debochando da tola irmã que não se enxerga.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Queridas Quimeras (II)


As duas mais velhas vivem numa briga intensa, porém velada. A primogênita é a escriba, que também é mãe de mais duas. Tem uma cabeça de dragão dourada que se tornou maior que sua cabeça de leão. Embora seja a mais descrente, e tenha quase morrido uma vez, nunca perde a majestade. Zomba da correria que as outras passam diante de pequenas oportunidades do acaso.
_ Conformem-se queridas! Afinal não há nada de errado conosco... mais vale ser um monstro fabuloso dentro dum coração sincero do que eterno escravo de interesses mesquinhos...
A segunda é a cantora, capaz de belíssimas polifonias a três vozes, é a mais assanhada e vaidosa de todas, mesmo que em alguns momentos tenha sido um pouco esquecida e até desprezada. Sempre viveu embebida em seu amor próprio! Já que costuma ser a mais reconhecida e bem sucedida de todos. Apesar de ser narcisista sabe também ser amiga dedicada e irmã complacente em horas de crise.
Então simplesmente canta... dizendo ainda que qualquer cantilena entoada no acaso de afetos verdadeiros justifica sua existência fantástica.


(continua... na imagem uma Quimera de Gina Litherland)