quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Dona Carmem (parte II)


Três diabinhos pousaram sobre meu ombro quando entrava na sala de Dona Carmem. O primeiro era o da revolta, que não parava de citar a lista de injustiças e podridões daquela empresa, e como poderia usar essas informações para chantagens. O segundo era o do assassinato, este insistia que a única maneira realmente digna de superar um inimigo era sua morte, mesmo que não terminasse impune. O terceiro era o do escárnio, que gargalhava ao ter a visão de Dona Carmem dançando pelada sobre a mesa da diretoria.
Dentro da sala ela estava absorta na tela do computador, olhou para mim sorrindo. Acho que não lembrava de vê-la sorrir.
_ Aceita uma jujuba? Um amendoim?
Diante dela havia dois potes com essas guloseimas. O diabinho número três mergulhou com vontade nas jujubas e brincava como uma criança, o número dois pousou sobre a cabeça dela e fazia sinais para que eu atacasse. Só o primeiro permanecia quieto e analítico.
_ Você sabe quem é o autor de Casa de Bonecas?
Onde ela queria chegar?
_ Casa de Bonecas? Como assim?
_ Sim... uma peça, está escrito aqui, Casa de Bonecas, cinco letras... você entende de teatro, não é?
_ Ibsen.
_ Como?
_ O autor... I – B – S – E – N
Dona Carmem anotou o nome prontamente. E porque eu respondera corretamente? Levantou os olhinhos de azeitona e estava sorridente, com uma expressão infantil e boba.
Aquela não era Dona Carmem!

(termina no próximo post, imagem de Erhard Schoen)

Nenhum comentário: