sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dona Carmem (Final)


_ Muito obrigada, estou quase na final do concurso de palavras cruzadas!
Era isso então minha querida inimiga? Observei ainda mais um pouco a maneira que ela enchia a mão de jujubas e amendoins, como uma menina pateta e gulosa. A quem estavam querendo enganar? Aquela não poderia ser digna nem de minha repulsa. Onde estava a mulher capaz de torturar consciências silenciosamente?
_ Você não é Dona Carmem.
_ Como?
Dei um tapa nos potes de guloseimas.
_ Onde está Dona Carmem? Não quero tratar com essa cópia barata!
Pela primeira vez em minha vida comecei a berrar tudo o que sempre desejei. Falei tão exaltado e atirei contra aquela mulher tantos insultos que ela chorava, trêmula de medo. Os olhinhos de azeitona se desmanchavam e a secretária abriu a porta com cara de susto. Os diabinhos deleitavam-se, dançando com cantilenas agudas ao redor da cabeça da falsa Dona Carmem.
Saí da sala sem dizer mais nada e segui para o RH, onde pedi minha demissão.
Mas não descansarei enquanto não colocar minhas mãos na verdadeira Dona Carmem. Sigo pelo mundo procurando o rastro de minha doce inimiga como quem busca a presa ideal. Cotidiano, carreira, negócios, futuro... o que importa? Meu único sonho é fechar meus dedos em seu pescoço e poder me divertir um pouco vendo sua face tornar-se roxa e clarear-se, tornar-se roxa e clarear-se, tornar-se roxa e clarear...
Meus diabinhos seguem atentos, prontos a me alertar se ela prepara alguma armadilha sorrateira na penumbra.

(esse conto partiu de reflexões sobre sentimentos obscuros e acabou se transformando numa coisa muito diferente do que foi pensado inicialmente. Na imagem uma bruxa renascentista de autor ignorado)

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