segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Quem-se-quer


Estava com seus melhores sapatos e seu melhor terno quando os deuses da chuva levaram junto com a enxurrada sua dignidade...
Abrigou-se numa lanchonete próxima e viu escorrer, com a violência do temporal, o sonho de reaver um amor antigo. Era a única oportunidade para um recomeço e agora não era mais um homem belo, pontual e perfumado que deixara sua casa com uma grande certeza.
Observando o corre-corre dos funcionários da lanchonete e a tristeza de seu próprio semblante embaçado no metal velho da máquina de café expresso, resolveu que as pétalas do buquê lhe responderiam se toda ansiedade e correria valiam a pena.
E quando a última pétala desceu bueiro à baixo sentiu um calafrio bom, pediu uma dose e respirou vida nova:
Deu mal-me-quer.

(imagem famosa de Magritte)

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