terça-feira, 6 de novembro de 2007

Lady Baby


Por muito tempo Dolores foi uma pessoa aparentemente comum. Seu trabalho como pedagoga de uma escolinha consistia em conciliar o bem estar das crianças com os anseios desesperados dos pais. Nos primeiros anos driblava muito bem situações variadas e sempre conseguia transparecer calma diante de situações muito adversas, como o dia em que a filha do juiz sangrou após ser empurrada pelo filho de um comerciante.
_ Quero a cabeça daquele pivete...
Berrava o juiz enquanto Dolores, com a maior calma do mundo, tentava mostrar para ao homem que no universo infantil as relações de causa e efeito eram diferentes.
Ela entendia as crianças como ninguém!
Tanto que com o tempo todas as tarefas diplomáticas a aborreciam profundamente. Até que numa reunião pedagógica com Dr. João Martins, o supervisor, simplesmente fez cara de tédio e soprou os lábios:
_ Brrrrrrrr.... chato!
Com o tempo começou a buscar refúgio nas salas do berçário, e João Martins atrás dela gritando que precisava de postura, que pais estavam prestes a visitar a escola e não podiam ver uma senhora como ela rolando no chão às gargalhadas com os bebês. Ninguém percebia o estudo profundo que a mulher fazia da alma dos pequeninos, nem mesmo ela, que agora recebia as broncas de seu superior sem compreender significados em palavras. Apenas ria e batia palmas ao ver o homenzinho ter ataques histéricos.
Um dia Dolores prendeu João Martins como seu boneco preferido, abraçando-o com um carinho sufocante e o mantém ainda hoje na salinha em que está encalhada.
Todos na escola correm feito doidos quando ela começa a berrar escandalosamente por comida.

(imagem de Fernando Botero)

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