sábado, 31 de outubro de 2009

O ataque dos panetones eternos


Queria já ter falado nisso antes, precisava já ter falado porque o caso é antigo. Todo ano é a mesma coisa, estou geralmente andando apressado pelo supermercado quando, virando numa estante trombo com eles: pilhas de panetones! E em qual mês estamos? Setembro, outubro? Eles sempre chegam cedo demais prenunciando o fim irremediável de cada ano. Como uma sina maldita que vem enfatizar o lado diabólico do natal.

Vontade de deixar o tempo fluir livre desses compartimentos que chamamos de anos, datas, dias santos...

Agora nos chega o dia dos mortos, noutras terras as bruxas se libertam e muito antes disso os panetones já estavam lá à nossa espreita nas prateleiras inevitáveis, aguardando os malditos pisca-pisca, os falsos bonecos de neve, os papais-noéis e tantos símbolos soberbos que não deixam nem o pobre do Jesusinho aparecer.

Tumbalacatumba que eu prefiro dançar com as caveirinhas!



terça-feira, 20 de outubro de 2009

Enxurrada


O velho louco estava na chuva parado, deixando-se molhar debaixo de um guarda-chuva depenado. Ele sorria sem reagir à enxurrada e aos banhos de água suja que os carros faziam espirrar em seus trapos.

Pacientemente ele esperava algo que eu há muito já perdi enquanto seus olhos gozavam de cada um dos meus sonhos secretos.


(imagem de Magritte)


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O retorno das batatas machadianas

Queridos leitores imaginários... não desanimem deste blog ainda, ando com a sensação de que os minicontos e fabuletas vão voltar, renovados, revigorados ou simplesmente insanos... a fórmula antiga se esgotou e num momento parecia que tudo perdia o sentido. Mas... sinto algo no ar... não sei se são os velhos demônios de sempre ou algumas musa que anda me sondando... de qualquer forma, venho informar que “Ao Vencedor, As Batatas!” está novamente em cartaz, com reestréia neste sábado, dia 17, as 20hs, no Teatro X, Rua Rui Barbosa 399. Estaremos em cartaz neste espaço até dia 19 de dezembro. Taí um convite para apreciar uma adaptação de um clássico que você com certeza teve que ler na escola. Para quem gostou do livro é uma ótima oportunidade para rever aqueles personagens inesquecíveis que acompanham o Brás Cubas. Para quem não gostou é também uma grande oportunidade que você dá a si mesmo de conhecer melhor o Machado (porque se você não gosta dele com certeza tem algo errado contigo, não com ele).

Quem quiser ingressos com descontos é só falar comigo!

Merda pra todo mundo!


(fotos realizadas durante nossa última temporada por Inês Correa e Olga Ribeiro)


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Primavera surtada


As novas flores da estação explodem em gemidos e cantilenas melancólicas enquanto as deusas da primavera se contorcem histéricas em luxúria.

Perséfone está em crise e pula a janela da casa da mãe para ensaiar no submundo com uma banda de metal que criou no último inverno. 

Hades, que prefere música clássica, não se sente mais confortável em seus reinos e tá pensando em privatizar o Estige a despeito do barqueiro Caronte, que ameaça um processo sindical caso não receba pelo menos 50% do valor da venda.

Já Deméter, coitada, se vicia em rivotril e cultiva tempestades sem saber a quais ventos pedir ajuda.


No meio disso tudo trago notícias: Fui contemplado com o prêmio Interações Estéticas 2009, da FUNARTE, para desenvolver um projeto junto com o Teatro Commune! É a primeira vez que consigo algo assim e estou emocionado com essa oportunidade. Além disso, a partir do dia 17 a peça “Ao vencedor, as batatas” volta em temporada no Teatro X. Que pelo menos Dioniso se mantenha sóbrio (não no sentido etílico do termo) para me dar suas bênçãos neste tempo doido.

Assim que é bom, tava tudo muito calmo para ser começo de fim de ano, afinal até os panetones já deram o ar da graça.


(na imagem, Perséfone de Dante Rossetti, bem antes de sua mudança radical de estilo)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Palco mudo

Ainda com a cabeça perdida nas sensações de Pina Bausch. Café Müller. Não acredito que tive a oportunidade de assistir essa pérola (acho que nenhuma de nossas palavras portuguesas traduz a expressão inglesa masterpiece), ainda no dia seguinte eu lembrava das cadeiras voando e da música de Purcell... não parecia verdade. E nem a Pina faltou, porque era possível vê-la no palco, ouvir seus gemidos. Muito cedo para a morte conseguir apagar sua presença. Depois pude participar de um happening com a Companhia Corpos Nômades e me senti um violinista muito especial por estar transitando e sendo embalados por aqueles corpos artísticos que também se tornaram parte de mim e do violino.

Depois disso tudo faço com que as palavras durmam e sonhem com a dança.

Hoje quero um palco mudo.