Tive um companheiro humano. Era um homem de um metro e oitenta e orelhas arredondadas que a partir de uma manhã cinzenta passei a bisbilhotar por mera curiosidade. No começo eu me divertia trocando seus objetos de lugar. Ele nem sonhava com minha existência! Depois fui tomando compaixão por aquela criatura grande e desengonçada. Muitos humanos não entendem, mas é assim que nós duendes começamos a fazer amizades. Um dia chegou o momento de me apresentar e trouxe um punhado de boa sorte como presente. Naquele dia ele ficou muito feliz e ganhou boas rodadas de pôquer. Então descobri que ele era um viciado em jogo e bebida. Comecei a ajudá-lo para que não perdesse os limites com o álcool nem fizesse apostas erradas. No começo ele era atencioso e me respeitava muito, mas logo me cansei daquelas noitadas esfumaçadas. Ele exigia que fosse sempre com ele e quando relutei se tornou violento. Uma vez até me aprisionou numa gaiola, deixando-me na varanda, onde gatos famintos me rondaram ávidos. Ele então roubou meu chapéu e minhas botas para que eu nunca o abandonasse. Mas houve uma oportunidade, numa noite que quase desencanei de meus pertences. Ele já estava bêbado quando apareci. Ajudei-o nas melhores jogadas como sempre fizera, sem descumprir minha promessa, porém não alertei quando à bebida. Assim que ele caiu os outros jogadores se encarregaram de saquear seu ouro. A mim só interessava meus objetos roubados, cuidadosamente escondidos no bolso interno de seu casaco.
Corri feliz e livre como nunca naquela noite.
(imagem de Botero)
sexta-feira, 4 de julho de 2008
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