domingo, 4 de maio de 2008

Ciranda: Victor


Victor não poderia estar mais vivo que naqueles tempos.
Deixara o mundo parado e estático de sua cidadezinha natal para confrontar o fascínio e a liberdade de viver numa cidade de dimensões infinitas, como se a gigantesca mão de Deus o colocasse delicadamente na borda daquele abismo e dissesse:
_ Toma! Esse mundo é todo seu!
Então delirava na ânsia de que poderia ser qualquer coisa: louco suburbano, mendigo, gênio ou bon-vivant pervertido. Era uma tela branca e luminosa que pouco a pouco se tornava um daqueles seres: tão sombrios, desencanados, drogados, multi-sexuais, extravagantes, tão repletos de tatuagens, piercings, frustrações e melancolia, brindando a degustação dum luto irremediável.
_ Mas por que esse choro?
Perguntou numa noite para Nádia, que vez por outra trocava sua natural apatia por crises de choro convulsas que vinham sem previsão, às vezes em momentos pouco apropriados, como o auge do desvario de festa em que se encontravam.
_ Não sei, as coisas que doem em mim já não tem nome.
Disse ela enquanto uma gargalhada estridente irrompia numa das muitas vozes do grupo:
_ Hahahahahaha... só a Nádia mesmo...

(imagem de Mondigliani)

Um comentário:

Maria Cláudia S. Lopes disse...

...as coisas que doem em mim já não tem nome.