segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ciranda: Teodoro


Durante o dia ele era estátua, e não entendia muito bem sua profissão. Sabia que o desenhavam e sabia de sua capacidade fabulosa de ficar imóvel, desde criança aprendera bem essa habilidade ao se misturar às plantas, à areia da praia, ao mar e iria até céu se pudesse voar. Entendia-se também como alguém que tinha coragem de despir-se facilmente na frente de desconhecidos. De relance Teo percebia que os desenhos eram bem feitos, mas não eram verdadeiramente de seu corpo, nenhum traço sequer o revelava, nenhuma curva era real. Concluía então que se qualquer um daqueles estudantes passasse a noite com ele, o que significaria o dispêndio de um pouco mais de dinheiro além do que recebia pelas horas de estátua, aí sim teriam a dimensão verdadeira de seu corpo, assim como fazia com aqueles que encontrava em suas andanças noturnas. Atravessava bares, clubes, boates e pessoas numa caminhada incessante e tão silenciosa quanto seus momentos paralisados.
No calor imóvel da tarde deixava que então sua alma vagasse eterna e agitada pelo ar, distraidamente não percebia um amor velado sendo moldado através dos riscos de grafite: nas mãos de Vitor ele se tornava um arcanjo de luz e pecado, e se pudesse ver esse desenho que estava tão longe, no extremo canto distante da sala, onde seus braços eram transformados em asas feridas, sentiria uma emoção antiga e estranha desabrochar, tornando-se capaz de romper seu eterno silêncio e finalmente dizer em comoção única:
_ Este sou eu!

(essa é a série nova que lanço hoje no blog, cada semana um personagem dá a mão a outro na esperança de que uma história surja de várias, nada está muito programado, portanto, como sempre estou aberto a palpites e sugestões. Esta semana pretendo também entregar mais uma encomenda da promoção. Não sei o autor da imagem)