sexta-feira, 18 de abril de 2008

Uma donzela

encomendado por Lidia
Ofélia era uma donzela enclausurada não por paredes ou carrascos, mas pela melancolia profunda de sua face. Contraditoriamente sua alma era um oceano de sonhos e alegria pura, embora ninguém acreditasse: todos fugiam desconcertados de sua presença, respondendo àqueles olhos tristes e cansados com o abandono.
Em silêncio ela clamava por efervescência, mas acabara se contentando com a felicidade de observar a alegria alheia. Era assim desde a infância.
Quando a mocidade chegou trazendo suspiros e paixões ela continuou prisioneira de seu semblante, enquanto por dentro Vênus e Baco celebravam orgias maravilhosas. Justamente nessa época ela despertou o amor de um cavaleiro triste, que depois de observá-la como uma musa por meses não teve medo de aproximar. Ele já tanto contagiara outras donzelas com seu pessimismo irremediável que temia cortejar outra que não fosse mais triste que si próprio. E para ele Ofélia parecia superá-lo em angústia, teve certeza disso desde a primeira lamentação que jogou em seu regaço, entendendo seu silêncio como uma frieza quase desumana. Internamente ela gargalhava com aquelas histórias que lhe pareciam tão ingênuas e pueris.
Por fim casaram-se e por vezes choram juntos, ela de riso ele de dor, em lágrimas iguais em proporção de sal e água.

(imagem de Da Vinci)

2 comentários:

Maria Cláudia S. Lopes disse...

do caralho celso, esse aí....me lembro a estória da princesa de olhos tristes rs
vc se supera a cada dia, lindo!
tô esperando vcs!

Anônimo disse...

Olá,tudo bem?Sou o irmão da donzela que lho encomendou o escrito;ela já mo tinha falado de ti certa vez,porém,somente agora venho travar conhecimento...;Adorei o breve conto;poderia chamá-lo não de conto,mas de parábola,como são chamados os escritos breves de Kafka.Um abraço!