quinta-feira, 3 de abril de 2008

Banho violeta


Ela mergulhava no banho vagarosa, deixando seu corpo afundar num perfume de pétalas mortas. Seu banho era místico, rodeado de inúmeros vasos de violetas que cuidava com esmero. Em épocas de flores elas entoavam um canto hipnótico, despertando sensações diversas: na tristeza derretia, na alegria encolhia-se encantada e frágil, enquanto na paixão aspirava tão intensamente sua própria humanidade que se tornava como elas: violenta! Nessas épocas trazia amantes furtivos ao seu santuário. Sem que demonstrasse a fúria do transe afogava-os lentamente até as raízes da terra.





(Esse texto foi concebido enquanto escutava distraidamente a música desta cena, que faz parte do filme Drawing Restraint 9, de Matthew Barney, o marido da Björk, que atua no filme e assina uma belíssima trilha sonora)

Um comentário:

Maria Cláudia S. Lopes disse...

que lindo celsinho...o tempo te fez adquirir uma delixadeza muito peculiar que antigamente faltava nos seus textos...cada ano que passa eu sinto que vc destila melhor o perfume da sua literatura e isso me deixa sensibilizada e muito muito feliz...do caralho!!!