quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Amor eterno


Gostava muito da presença de seu amante, tanto que sem ele perceber ou reagir foi carinhosamente prendendo-o em seu quarto. Sempre que ele fazia menção em ir embora ela pedia que ficasse um pouco mais, oferecia as frutas secas que tanto gostava, vinho e deixava o leite de seu seio tão doce que ele mais uma vez adormecia em seu colo.
Com o tempo criou uma eternidade no cômodo! O próprio amante, antes genioso e aventureiro, foi se transformando numa criatura plácida e silenciosa que deixava o mundo correr janela afora. E o desejo dela, antes difuso e cruel foi se transformando em bicho calmo, manso e enjaulado.
Então vieram épocas dispersas, movimentadas e ela quase se perdia entre seus objetos e compromissos. Uma noite, enquanto procurava um vestido esquecido na bagunça do quarto encontrou o amante, também esquecido debaixo de uma pilha de roupas. Seu coração estremeceu, olhou no relógio e concluiu que havia tempo antes do baile.
Cuidadosamente retirou dele o excesso de poeira e com muito amor o colocou dentro do guarda-roupa, entre seus vestidos de festa e duas antigas amigas de juventude.



(imagem de Magritte)

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