terça-feira, 11 de setembro de 2007

A Viúva

encomendado por Maria Cláudia
Helena anda de um lado para o outro com insônia. Já conheço bem essa cena, logo não poderá mais suportar e acabará ligando para alguma amiga, desabafando até os soluços, atacando uma garrafa de vodka e xingando-me até a exaustão!
Tudo por causa de uma culpa inútil que ela insiste em carregar.
Mas nunca a culpei de nada, nem mesmo na hora em que o envenenamento se tornou agonia intensa e ela gemia encobrindo o rosto, talvez arrependendo-se de seu ato ou simplesmente não podendo suportar uma visão tão clara da morte.
Agora, sendo apenas um espectro só me resta aguardar pacientemente os momentos em que ela se acalma, quando posso aproximar devagar de seus ouvidos e sussurrar com a voz que não tenho mais:
_ Helena! Se você pudesse ter compreendido minha fraqueza! O que podia fazer se me ensinaram a amar com dor? Toda a indiferença, as grosserias, traições... cada desilusão que em ti provocava era a vívida materialização daquilo que covardemente eu mantinha sem coragem de compartilhar contigo.
Nunca passei de uma criança egoísta.
Portanto entendo que tenha me matado!
Meu destino agora é guardá-la, velar seu sono, observar os enlevos de sua respiração, a ânsia de suas palavras, a luz que torna sua pele escura e até mesmo seus gemidos quando está nos braços de outro...
Amar-te sempre será meu segredo maior!
(imagem de Magritte)