segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Manhã turva de Fel


Um cavalo descomunal e terrível saltava enfurecido na entrada de sua casa. Vários homens pulavam em seu dorso tentando contê-lo, mas eram atirados com violência entre coices, saltos e relinchos bestiais. Fel contemplava amedrontado da janela, sem suportar sequer o olhar do animal. Só percebeu que Cecília estava ao seu lado quando um homem finalmente conseguiu alcançar o dorso do bicho e lhe aplicar uma injeção.
_ Pobrezinho... disse Cecília vendo o cavalo desabar.
_ Como assim? Olhe...
Respondeu indignado apontando a face retorcida de bicho louco, que mesmo já sendo arrebatado pelo sonífero ainda tentava morder alguém com dentes estatelados.
Aí acordou atônito e suado, com medo daquele bicho que pulava incontrolável em algum lugar dentro de si.
Surpreendeu também a ausência de Cecília em sua cama, e na busca por algum vestígio somente encontrou restos de sonhos ainda vivos entre um pouco do cheiro dela.
Suspirou a falta de um bilhete qualquer.

(Apenas para avisar a possíveis leitores que chegaram recentemente, esse post faz parte de Histórias de Cecília, não é uma novela, mas uma série de histórias e fragmentos envolvendo esta personagem e os que a rodeiam. Para conhecer o conjunto é só ir no cardápio. Imagem de Dali)

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