sábado, 8 de novembro de 2008

Terceiro Ato


encomendado por Maria Cláudia
Há muito desconfiava que me preparam uma armadilha. Desconfio desde o primeiro momento que olhei fundo no lado escuro e pude ver os vultos. Seriam fantasmas ou alucinações? Espíritos inquietos que assistem minha vida e murmuram entre si, compartilhando seu desejo por sangue. É deles que emergirá minha morte, não de meus sete ministros, que agora me chamam a atenção, tentando afastar-me desses pensamentos e distrair-me da estranha realidade que se insinua, numa cena tantas vezes repetida. Eles propõem um brinde e sorriem, mas apesar dos dentes arreganhados seus olhos denunciam o sorriso falso, olhos que não conseguem esconder uma ânsia desesperada. Somente agora posso dar conta de que tudo ao meu redor é verdadeiramente falso, até mesmo esse corpo que não é meu.
Esse é o momento em que a tragédia se concretiza, quando a terrível fatalidade tramada pelo sentimento mesquinho de um desconhecido recai sobre mim. Tudo é controlado para que esses olhos estranhos na escuridão acreditem numa lenda tola, como essa luz que se afunila sobre o cálice reluzente... deveria beber o brinde envenenado e me entregar a essa vida que não escolhi?
Corro para fora desse mundo artificial, enfrento esse espaço obsceno sem medo de atravessar o lado escuro... ignoro a surpresa dessas pessoas que não podem entender minha verdadeira tragédia. Fujo através da cidade para me jogar da primeira ponte que encontrar, assim não me mato sozinho e levo comigo o corpo infame desse ator que me interpreta.

(imagem de Joan Ponç)

2 comentários:

Anônimo disse...

Será que o texto fala exatamente sobre o que estou pensando que ele fala?
Não sei se entendi...

Maria Cláudia S. Lopes disse...

caralho celsim....a coisa do ator que te interpreta eu chapei...
vem ver minha estréia no dia 28....pra matar saudade...please
te amu