sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Todas as mulheres do mundo


para Aninha

Mariana era ciumenta e se conhecia bem o suficiente para saber que sofreria a vida inteira por isso. Era uma mulher muito compreensiva, e apesar de sentir o sangue ferver a qualquer sinal de que seu marido detinha os olhos em outra, respirava fundo e lembrava a si mesma da inconstância do desejo dos homens.
No começo do namoro brigara muito, dera alguns pequenos escândalos, algumas unhadas discretas, mas aos poucos foi se controlando até numa noite, depois de vê-lo entrar em transe simplesmente porque se vestira de cigana, percebeu que seria a esposa perfeita se pudesse lhe proporcionar o sabor de todas as mulheres do mundo.
E ele ficou surpreendido com essa nova realidade, cada dia encontrando uma outra habitante no corpo de sua esposa. Às vezes amanhecia com uma colegial safada, almoçava com uma guerreira oriental, tomava café com uma bailarina e por fim dormia com uma senhora inglesa. Já eram tantas Marianas ou Anas ou Marias que ele se sentia confuso.
Agora continua olhando sorrateiramente para as mulheres à sua volta, que se misturam às que Mariana representa, numa sutil nostalgia e esperança de reencontrar a moça ciumenta com quem se casara.


( Desculpem passar uma semana sem publicar, sabe como é, festas de natal somados ao fato de que na casa de minha mãe tenho que dividir o uso do computador, mas prometo ainda dois posts esse ano. Imagem de Max Ernst)

Um comentário:

O Silêncio do Barulho Surdo disse...

Aproveitando o tempo livre para atualizar a minha leitura...
Sinto que esse texto vem para nos lembrar da eterna insatisfação que habita o interior de todos.
A vontade de ser quem não somos, ou de sermos mais de um.
De agradar sempre, de garantir um amor.
E no final... tudo que importa é realmente a nossa essência!

Beijos,