sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Queridas Quimeras (III)


Restam então as mais loucas, que são as duas filhas da escriba. Metem-se no meio de qualquer devaneio que encontram e se entregam apaixonadas. Suas cabeças nascem e morrem de uma maneira espantosa, até bichos diversos de bodes ou dragões já surgiram dessas almas incontroladas. Uma delas se diz cineasta, roteirista, às vezes até se mete a publicitária e irrompe aos gritos porque alguma nova idéia mirabolante explodiu. Sua irmã gosta de teatro, mas não sabe ao certo qual seu papel... no fundo quer ser grande poeta trágico e coleciona caveiras, embora sinta um desejo delirante de estar sempre no meio do palco. Juntas brincam de bonecas e fantasiam o parto de mais mil quimeras.
Então eu penso em matá-las! Deixar que meu caminho não seja mais atacado pelos humores escandalosos dessas minhas queridas. Planejo e sonho armadilhas mesmo quando estou iludido, mesmo tomado pelo medo da solidão infinda sou capaz de gargalhar no meio da noite enquanto as quatro dormem em sonhos concretos. Nestas horas sinto minha cabeça de bode coçar, um arrepio na penugem de fera e no espelho ignoro a grande verdade estampada, tão nua e crua.
As outras então se entreolham com malícia e crueldade, debochando da tola irmã que não se enxerga.

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei muito interessante.
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Obrigado