Na praça e ruas que andou por toda a sua vida o velhinho tão antigo quanto a própria cidade sofria uma angústia profunda: estaria seu grande amigo ainda vivo? Perguntava-se todos os dias ao passar em frente à casa azul, ao lado da quadra da paróquia, lembrando que sua senhora sim, morrera em tempos perdidos e até recordava de segurar na alça do caixão, mas quanto a seu amigo de mais de sessenta anos, compadre e companheiro até de travessuras adolescentes, não conseguia lembrar. Assim passava horas perambulando, indeciso se batia na casa azul ou não. Temia encontrá-lo morto! E que lhe dissessem que ele próprio conduzira uma das alças. De vez em quando abordava jovens, que talvez fossem netos de algum fulano, e perguntava se por acaso não conheciam o homem da casa azul, ao lado da quadra da paróquia, se sabiam se ele estava vivo ou morto. Nenhum desses estranhos tinha a resposta e assim o velho voltava pra casa angustiado, imaginando que se seu amigo estivesse vivo já o odiava, pois há tanto tempo lhe devia uma visita.
(imagem de Dali, em suas fases iniciais)
3 comentários:
Muito bom!
De repente me despertou uma estranha sensação de grande semelhança... certamente de como será a minha "cabeça" na velhice!!!!
Muito bom...me lembra Dostoiévski...gosta de Dostoiévski?
Muito bonito!!Bom mesmo!!Adorei!
Bjuuus
essa estória aí eu conheço hein!
rs...lembro de quando ela foi criada!hehe
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