quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Noturno


Diziam que Horácio era o bom entre os depravados, o cordeiro escondido no covil de lobos, ou até mesmo o salvador que viera purificar aquela estirpe odiada há gerações. Dizia-se que todos os membros daquela casa eram corruptos, da velha matriarca que uma vez prendera uma criada por semanas no sótão à criança que colocava escorpiões nos pertences alheios. Diziam também que Horácio era o único capaz de conter as discussões agressivas e remediar as crises que sempre tomavam voz durante o jantar.
O que ninguém dizia era o destino da caminhada que fazia todas as noites após a sobremesa. Quando o sono transformava qualquer rancor em balbucios infantis ele desaparecia sorrateiro por duas horas.
Apenas a noite era testemunha do pecado que cometia diariamente, em solenidade de ritual.
Praticava-o silenciosamente, através de mãos delicadas e impunes para retornar à casa feliz e plácido, em sonhos de homem santo.


(imagem de Magritte)

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu me encontrava com Horário e com várias mulheres, bebíamos vinho e líamos poemas de Álvares de Azevedo e Byron.
Isso é um segredo, não conte a ninguém!

Maria Cláudia S. Lopes disse...

mas o que é que ele fazia?
tocava uma olhando pro mar?
matava virgens?

hauhauhauhau

Celso Amâncio disse...

então... meu... eu também queria saber os pecados de Horácio... quem sabe não tentamos decifrar juntos...?