quinta-feira, 18 de outubro de 2007

História de Olga


Todos pensavam que Olga tentou se matar várias vezes. Mas era só insônia, então de vez em quando ela abusava um pouquinho nos comprimidos. Só porque ela tinha cara de deprimida significa que queria se matar? Coitada! Olga era alegrinha, tinha hora que parecia uma pastorzinha loira em cânticos de louvor! Tudo bem que ela tinha um gosto meio bizarro e uma fala sonsa de mui chapada. Tentou ter várias bandas e até acreditava que seria a grande musa do pós-punk-feminista.
Mas fracassou porque ninguém parecia ter muita paciência com seu estilo, nem mesmo os membros da banda. Era tanta briga que por fim cada uma seguiu seu rumo e Olga acabou se tornando dona de casa. Não que seu marido fosse rico, mas sabe como é: desemprego misturado com a necessidade de educação do filho. Por fim, depois de alguns anos de vida pacata e pseudo-suicídios ocasionais, Olga acordou com uma lâmpada na cabeça: ah, chegara a hora de sua carreira solo!
Seu marido inventou de ser produtor e ela teve seu primeiro grande hit: “Os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio.”
E sobre essa canção de sucesso ela contava, toda serelepe, que a compôs numa noite em que testava a ressonância da sala através de lentos arpejos na guitarra quando o filho de seis anos bebeu quase um litro de desinfetante de lavanda.
Mas ele não queria se matar não. Era só insônia.

(imagem de Georges Braque)

2 comentários:

Pandora disse...

Cara! Adorei esse! q massa!!
Bjo!

Pandora disse...

Ah! o teu do leão acordou um velho leão dentro de mim... não é fast, talvez não seja fábula, mas... talvez vc goste:
http://boazinhaocaralho.blogspot.com/2007/10/subtilidade.html
até!