segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A mão decepada (final)

Viveu ainda muitas noites de insônia até que finalmente decidiu enterrar seu grande amor. Silvério a colocou cuidadosamente na mesma caixa em que viera e seguiu rumo à fazenda de seu avô, exatamente ao local onde juntos haviam escondido o corpo.
Enquanto abria a cova chorava, principalmente na hora que a mão parecia suspeitar de algo e se debatia em súplica intensa. Mas Silvério estava resoluto e completou o ato, terminando de chorar sua tristeza no colo do vovô.
De madrugada foram acordados pelos gritos do corpo berrando injúrias a Silvério, estava montado no raro cavalo andaluz, que era o único tesouro de toda sua família. O pobre cavalo, apesar de forte era sensível como uma princesinha e tremia sobre golpes severos de chicote.
Segurando as rédeas estava a mão.
Silvério desferia tiros inúteis no corpo que apenas gargalhava, até que a mão fez o cavalo andaluz empinar, jogando-o violentamente no pasto. Antes que tivesse chance de soerguer a mão atirou-se sobre ele, esquartejando-o em poucos minutos.
Então Silvério não tinha mais motivos para desconfiança! O amor e a fidelidade da mão estavam definitivamente provados.
No dia seguinte riam muito lembrando do corpo que queimaram pedaço a pedaço. Divertiram-se num chá com quitutes deliciosos: Silvério, a mão e o cavalo andaluz.

(novamente, imagem de Dali)

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