terça-feira, 28 de abril de 2009

Medusa


Ela diz que tem cabelos rebeldes e desde a infância sofre numa luta diária para domar aquelas serpentes negras e peçonhentas, mas ainda assim tão cheias de encanto e sede que nunca pude escapar da prisão de seus olhos.
Só meu coração de pedra é capaz de amá-la.


(escultura de Lorenzo Bernini)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Estréia & Reestréia!

Hoje venho fazer propaganda!
Queridíssimos leitores de São Paulo e região, estão todos convidados a assistirem “Ao Vencedor, as Batatas! Livre adaptação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do Machado, que completou 100 anos de morte ano passado. Estou na peça, com a Companhia da Galhofa, fazendo toda a trilha sonora ao vivo e atuando também. Concretizando um desejo antigo de ser ator acabei entrando para uma categoria muito especial: Músico-ator! Independente se estiver atuando, tocando ou escrevendo, confesso que tenho uma atração pelo teatro, esse palco louco de Dioniso onde as artes se entrelaçam numa orgia descabelada... Enfim! A peça está bem legal, o elenco está muito empenhado e são todos grandes atores. Olhem aí umas fotos de nossa temporada em Curitiba (sucesso de bilheteria vale falar!)

Dias 1, 2 e 3 de maio será entrada franca! Podem levar adolescentes... é um bom estímulo para ler o livro e uma boa rememoração pra quem já leu.
Pra quem lê esse blog e não me conhece, eu sou o violinista azul aí embaixo.


Aproveitando, também conto que uma nova novela aparecerá neste blog. Nem tão nova assim para quem é de Uberlândia. Está confirmada a volta de “Sweet Dreams” nos fanzines mensais do Goma – Cultura em Movimento, espaço cultural de Uberlândia idealizado pelo pessoal do Porcas Borboletas! Desta vez “Sweet Dreams” terá total integração com o blog e esperamos ir mais longe... ano passado foram publicados três capítulos nos fanzines, os três estarão aqui no blog a partir de semana que vem... depois vamos ver o que vira... trechos da novela no blog, trechos no fanzine... outros quem sabe escondidos ainda noutros cantos! Sei lá! Sei que estou me sentindo aquele povo profissional como o Marcelino ou a Índigo que estão sempre comentando de seus eventos novos no blog.

Segue abaixo a ficha técnica da peça... no confabulando está o link para o blog da companhia (sou eu quem cuida dele inclusive).




Ficha Técnica
Autor: Machado de Assis
Direção: Marcelo Braga
Dramaturgia: João Inocêncio
Elenco: Alessandra Parmagnani, Beto Andrade, Celso Amâncio, Fábia Leite, Felipe Alves, Jéssica Prioste, Naloana Lima e Renato Nascimento
Músico/Ator: Celso Amâncio
Iluminação: Alessandra Parmagnani
Figurino: Tânia Casttello
Espaço Cênico: Marcelo Braga
Produção: Cia. da Galhofa




Teatro Alfredo de Mesquita
Sextas e sábados às 21:00h e domingo às 19h.
A partir de primeiro de maio! O primeiro final de semana é gratuito!
O endereço é Avenida Santos Dumont, 1770
Santana (próximo às estações Tietê e Carandiru)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Caleidoscópio


Estava quieto no começo da noite quando fiz duas viagens dentro da garrafa. Cada vez montado em um dos olhos. O esquerdo estava inseguro, mas quando avançou fundo dentro conseguiu ver coisas que o direito nunca sonhou.

Depois eu quis sonhar, mas esses olhos indisciplinados passaram mais uma noite abertos.
Mas já sem ver nada.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Estranhezas


O texto é algo que me causa incômodo, desconforto. Chego a pensar se esta é realmente uma técnica pela qual valha a pena tanto sacrifício. Embora a música, com toda sua sedução, também tenha suas grandes estranhezas.
No fundo tudo é muito esquisito.
Inclusive a sensação de se surpreender sendo quem se é.
Não é irreal essa coisa de passar a vida toda detrás do mesmo par de olhos?

(acho que pra essa estranheza específica que a literatura serve de consolo, ou droga...)


(imagem de Joan Ponç)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Haikais grotescos


I
Deixe menina
a fera que irrompe meu corpo
lamber-te as feridas!

II
Éramos fetos
gerados na entranha
da vaca mansa.

III
Ponha-me luz
e antes que vermes me comam
serei vegetal.


(como disse antes... avisem se estiver equivocado com esses haikais)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

As vizinhas suicidas


Nunca pensei em me matar antes de morar neste prédio. Será? Pelo menos nunca imaginei viver num local onde a morte se faz visita constante. Mais uma moça se matou. Quase uma semana que estava morta e ninguém descobria, nem mesmo seu cheiro de decomposição atravessava as paredes. Por que essa me chocou mais que a outra? Esta eu conheci e até invejei. Sim. Invejei seu cabelo ondulado e brilhante, sua boca de carne fresca, os rapazes com quem subia de elevador, até seu nome de santa. Mas vivia sozinha e ninguém se lembrou dela na última hora. Assim como eu. Já a primeira que se matou foi encontrada mais rápido porque tinha diarista. Essa eu não invejava porque era parecida comigo. Quando desceram com o corpo passaram por mim e vi as gotas de sangue. Matou-se na banheira, com os pulsos cortados. Alguns dias antes tinha me imaginado assim também, tinha até vislumbrado a cara de minha mãe quando me descobrisse. Ela ficará louca de ter que velar o corpo maldito de um suicida, e ainda receber aqueles pêsames irônicos. Nunca quis me matar e agora sei que posso ser a próxima... Tenho medo de também ser uma morte esquecida e estou amiga de alguns vizinhos, sorrio e converso com todos que encontro no elevador, levo bolo aos porteiros, mostro para todos que existo e tenho encantos. Preciso ser encontrada com amor! Talvez por meu príncipe encantado, talvez marque uma festança para a hora H e aí sim, sendo convidada e agendada dessa forma, quero ver se essa morte solitária dá mesmo as caras e tem coragem de me arrebatar no melhor da festa.

(imagem de Chagall)