terça-feira, 23 de outubro de 2007

A bailarina aprisionada


Desde sempre Otto sabia que dentro dele morava uma bailarina frágil e então sofria. Era um homem corpulento,de rosto fechado e apenas os olhos denunciavam a menina aprisionada que sonhava toda a noite com pássaros de fogo, cisnes melancólicos e fadas açucaradas. Conseguiu emprego como faxineiro de uma escola de balé e finalmente teve um pouco de felicidade observando a movimentação e o treinamento daqueles jovens, para dançar sozinho quando as portas da escola se fechavam.
Nas vésperas do Grande Espetáculo Madame Velut adoeceu gravemente. Em meio ao desespero do empresário e das meninas Otto se prontificou a treiná-las. A gargalhada de toda a trupe suplantou as lágrimas aflitas, mas mesmo em meio a tal despeito ele respirou fundo e dançou: por fim todos se maravilharam por ver aquele homem enorme repetir cada passo da coreografia complexa.
Os olhos do empresário brilharam e prontamente fez com que Otto assinasse dezenas de contratos. Tornou-se um dos grandes destaques de seu show de bizarrices.
Agora todas as noites a menina, logo depois de cuidar dos remendos de sua roupa sofrida, prepara entre linhas e agulhas seu casulo.
(alguém melhor que Degas para ilustrar esse conto?)

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei este conto, simples e lindo! adoro vc tb Celso ... sou sua fã¡¡¡
bjos Andrea Duque