“Não existem fronteiras, as verdadeiras fronteiras são as fronteiras do pensamento...”
Sara Rosales, artista e intelectual que canta tangos no metrô de Buenos Aires
Trinta anos e não tinha ainda colocado os pés fora do Brasil, agora entendo melhor esse país porque estive fora. Em Buenos Aires pude perceber diferentes cores que tão bem me colorem, não apenas porque chorei ouvindo tango e descobri maravilhado a batida de pés dos tocadores de bandaneón, mas principalmente porque me canso um pouco do excesso de gestos, das falas gritadas e do deboche dos brasileiros. Me canso porque também sou assim, e de repente estar num país que é tão próximo e tão distante ajudou a estar um pouco fora de mim mesmo e deixar vir o silêncio. Não sei mais de que parte do mundo sou... Com a identidade confusa sinto que não consigo ser São Paulo, onde turba é violenta, caótica e selvagem. Talvez nem possa ser também Sacramento, onde o povo é delicado e acolhedor, mas capazes de matar tamanduás a pauladas por diversão.
Prefiro ser o eterno estrangeiro...
Não sei como é a Argentina por dentro, não sei o que se esconde nos porões de Buenos Aires ou que tipo de lama apodrece em seus portos... sei que queria um Brasil menos cruel, menos caótico, menos egoísta e que não nos sufocasse dessa maneira com sua massa cega e carente.
Bendita milonga porteña que me fez amar ainda mais o tango, o fado, o samba-canção...
Maldita milonga que doou minha alma ao mundo.