terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Velho amigo


Na praça e ruas que andou por toda a sua vida o velhinho tão antigo quanto a própria cidade sofria uma angústia profunda: estaria seu grande amigo ainda vivo? Perguntava-se todos os dias ao passar em frente à casa azul, ao lado da quadra da paróquia, lembrando que sua senhora sim, morrera em tempos perdidos e até recordava de segurar na alça do caixão, mas quanto a seu amigo de mais de sessenta anos, compadre e companheiro até de travessuras adolescentes, não conseguia lembrar. Assim passava horas perambulando, indeciso se batia na casa azul ou não. Temia encontrá-lo morto! E que lhe dissessem que ele próprio conduzira uma das alças. De vez em quando abordava jovens, que talvez fossem netos de algum fulano, e perguntava se por acaso não conheciam o homem da casa azul, ao lado da quadra da paróquia, se sabiam se ele estava vivo ou morto. Nenhum desses estranhos tinha a resposta e assim o velho voltava pra casa angustiado, imaginando que se seu amigo estivesse vivo já o odiava, pois há tanto tempo lhe devia uma visita.

(imagem de Dali, em suas fases iniciais)

3 comentários:

O Silêncio do Barulho Surdo disse...

Muito bom!
De repente me despertou uma estranha sensação de grande semelhança... certamente de como será a minha "cabeça" na velhice!!!!

Anônimo disse...

Muito bom...me lembra Dostoiévski...gosta de Dostoiévski?
Muito bonito!!Bom mesmo!!Adorei!
Bjuuus

Maria Cláudia S. Lopes disse...

essa estória aí eu conheço hein!
rs...lembro de quando ela foi criada!hehe