sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O Sátiro (parte II)

Não imaginava esse mundo estranho onde os seres não querem prazer! Quando cheguei corria excitado com tanto barulho, tanta gente, tanta cor, tanta luz como só imaginava que existisse no mundo dos deuses. Mesmo à noite meus olhos não conseguiam captar tanta coisa. As pessoas passavam por mim e me olhavam assustadas, alguns me chamavam de chifrudo, outros tarado. De repente cheguei num lugar onde havia muita gente, muita luz e música... e as pessoas gritavam alegres e cantavam alto. Senti felicidade e me aproximei, mas aí vi ódio em centenas de faces, como nunca vi em qualquer monstro de minha terra. “Demônio”, gritaram, e começaram uma corrida louca atrás de mim, só me dei conta de que não era brincadeira quando atiraram a primeira pedra. Corri muito, e por essa cidade estranha eles me perseguiam, me confundindo com um tal de capeta. Mas pelo menos eu era mais rápido que todos e num canto escuro da rua me recolhi.
Fiquei um tempo escondido e descobri que precisava de roupas e de dinheiro, e ninguém me sabia falar onde estavam os campos, os montes e a floresta. Comecei a trabalhar, morando num pequeno quarto de pensão, onde uma simpática velhinha me acolheu de bom grado. Trabalhava para um cara que falava rápido, eu tinha que ir a vários lugares, levando pacotes a outras pessoas. Até gostava, pelo menos andava e descobria esta cidade que não tem fim. Tinha a esperança de reencontrar meu bando qualquer hora, talvez também escondidos em roupas, talvez correndo de outra multidão enfurecida.

Nenhum comentário: