
Pelo espelho do carro corriam ruas perdidas e meio desencontradas, eram ruas que andei muito, ruas que cheiram a desejos e amoras tardias. Que pena não ser estação de amoras! Então lembro daquele tempo em que os sonhos e medos eram colhidos a baciadas. Éramos tão sem grana, mas tão nobres que podíamos nos dar ao luxo de um café da manhã de três horas. Queria muito fugir de lá naquela época e agora aspiro com uma saudadezinha melancólica o cheiro de chuva e terra, enxergando ternura até no mato que brota do cimento velho. Melhor que isso foi ainda o reencontro com as amigas eternas... e ah se a gente tivesse comprado mais uma garrafa de vinho... ah se tivéssemos só mais um dia de feriado... ah se pudéssemos carregar todos no bolso... sempre falta alguma coisa aos adultos nostálgicos enquanto dos olhos do menino derrama-se um oceano de emoções fartas.
Somos inevitavelmente devorados por uma majestosa baleia!
(imagem de Gabriel, sobre os olhos da Maria no retrovisor)