terça-feira, 6 de abril de 2010

O salmão e o grande amor


Depois de muitas histórias sobre Madame Verônica Anita resolveu comprovar a competência da cartomante. Sua questão era a mesma em todos os oráculos que consultava:
_ Quando virá meu grande amor?
_ Será o homem que te chamar para jantar e lhe oferecer salmão.
Algum tempo depois Anita foi trabalhar na recepção de um hotel internacional e devaneava horas tentando adivinhar qual daqueles gentis-homens e celebridades faria o convite sagrado. Chegou algumas vezes a se insinuar para alguns senhores solitários, sempre lembrando que o salmão do restaurante era impecável.
Aconteceu então numa noite insossa, onde perdia seus pensamentos em outras fantasias, de ser convidada para comer com Pablo, um garçom jovial com quem vez ou outra trocava algumas palavras. Era fim de noite e comeriam os restos de um jantar pomposo.
E finalmente veio o bendito salmão! Já um pouco frio e com um sabor terrível de predestinação.
Anita sentiu uma fisgada no corpo, estava já tão carente e sonolenta que se entregou ao moço, porém o renegou no dia seguinte. Pablo gostava dela e até insistiu por um tempo, mas Anita permaneceu impassível, flertando desesperadamente com qualquer bom-partido que tivesse oportunidade.
Anita foi muito infeliz.

(imagem de Nan Cuz)

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