quinta-feira, 4 de março de 2010

Um fantasma

Mesmo depois de morta Joana não conseguiu aplacar o rancor que nutria de seus familiares.
Resolveu ser um eterno fantasma na vida do marido, dos filhos e netos... sempre lembrando-lhes o quanto foram displicentes com seus sentimentos e como sacrificara toda sua felicidade por aqueles que nem foram capazes de construir-lhe um túmulo digno!
No começo todos se assustavam, mas reconheceram suas falhas e decidiram homenagear Joana com um mausoléu belo e aconchegante. Porém mesmo assim Joana reclamava: o mármore branco sujava muito, as flores eram constantemente roubadas, o sol era forte demais no começo da tarde... Tantos eram os caprichos que todos acabaram dispondo grande parte de seu tempo cuidando da beleza e asseio daquele jazigo.
E enquanto eles estavam no cemitério Joana respirava aliviada...
Encostando-se preguiçosa no sofá finalmente apreciava a harmonia de sua casa.

(imagem de Maurice Denis)

Um comentário:

Ariane Neves disse...

Celso, no mais íntimo dos seus contos quase qe pessoais!! é bom descobrir mais de você!