quarta-feira, 25 de março de 2009

Curtas de meio de semana VII



1 – Show do Radiohead! Ah, quantas desventuras... primeiro fico perdido sem ingresso, depois temos que socorrer uma desmaiada na última canção, por fim a saga de paciência e fé para conseguir um táxi. Mas valeu a pena... e como! Foi um show histórico.
2 – No meio de um inferno astral poeirento: acontece finalmente a esperada reforma no banheiro do meu apê, vivemos agora entre sacos de entulho, vaso sanitário na sala, notas fiscais e pó! Muito pó... haja pulmão e vassouras.
3 – Mas no meio da poeira encontramos também Dona Negron que tá ensinando a gente a colocar o nariz e entrar no picadeiro com dignidade, mesmo para receber umas palmadas.
4 – Ontem conversei com o fauno do Trianon, estávamos com saudades um do outro, ele até pareceu me apoiar em minhas novas empreitadas, escutou também minhas lamentações, mas permaneceu soprando de leve a syrinx, perdido num olhar vago, certamente desabrochando em alguma terra mais interessante que esta.
5 – Meus filhos queridos todas de cordas novas e alma no lugar.
_ Oh viola, minha viola, saudade de seus contornos e sua toada triste.
6 – Aliás, falando em viola, fiquei sabendo também que o lutier que fez a minha realmente conversa com extraterrestres, ele inclusive já sabia dos atentados de 11 de setembro, entre outras peripécias interplanetárias.
7 – Partindo amanhã para Curitiba, o espetáculo teatral que faço parte estará
no FRINGE e os ingressos já estão praticamente esgotados: Ao vencedor! As batatas!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Três Haikais


1

O fim de um verão
nem flores, nem pássaros
tão pouca paixão.

2

Sozinho na via
Expressa e selvagem
o bobo sorria!

3

Viveu esplendor
e do peito profundo
Ceifou seu ardor

Há muito queria ter coragem para treinar alguma forma poética. Ultimamente tenho pesquisado os haikais. São tentativas ainda meio tímidas e despretenciosas, mas que já servem como ótimo exercício de concisão. Avisem-me se estou indo para um caminho errado...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fellinianos


Senhoras peitudas que se deixam espionar por adolescentes, famílias barulhentas, loucos adoráveis que vagam por cidadezinhas, freiras anãs, jovens romanos sensuais, velhinhos sorridentes que se transformam em alucinações perturbadoras, semi-deuses enrolados em pedaços de meus sonhos, instrumentos musicais que tocam sozinhos, rinocerontes, pavões, palhaços e mais palhaços, com e sem maquiagem. E quando saio da sala de cinema continuo dentro. Faço parte de uma epidemia de tipos e personagens que invade ruas eternas, dos jardins luminosos aos becos sombrios de meu circo particular.
Circo-mundo de Fellini!


(e quem quiser dar um passeio pela cabeça de um grande artista é só assistir o vídeo acima)

domingo, 15 de março de 2009

Edward & Caroline



Essa semana foi frutífera pra minha cabeça, mas não para minhas mãos... portanto as sementes Fellinianas que plantei nos últimos dias ainda estão em possível gestação. Melhor então soltar logo os bichos...
E aí estão meus bichinhos queridos, flagrados no começo deste ano numa conversar um tanto... eu diria psicodélica? Ou piscótica? Ou boba?

De qualquer forma, esta ceninha não deixa de ser uma fábula...

Mas eles não são uma graça?



quarta-feira, 11 de março de 2009

Gorda amargura


Por uma rua plena de tédio, espanto-me com minha cara fechada estampada no semblante dos outros.
_ É o inferno astral... me diziam. Mês que vem o cosmos volta a ejacular pétalas no seu peito.
No supermercado vasculho o preço de pequenos frascos de prazer instantâneo.
Felicidade que engorda e tem data de validade.
Prefiro os caquis, mas como eles só amadurecem outro dia sou levado por um bombom rechonchudo que nem foi tão bom como prometia.
Até a tristeza anda gorda e não faz dieta.

(imagem de Botero
)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sem Título


Estava no banheiro do super-boteco-literário da cidade quando me caiu um título maravilhoso na cabeça.
Mal pude respirar diante aquela dádiva que escorregou...
Quicou!
E afundou para sempre na privada suja...


(imagem de Chagall)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pitanguinha


Entupia-se do gosto de goiaba, romã, cajamanga, fazendo de seu corpo parte do pomar, embora fosse mais íntima das frutinhas pequenas, que a ensinaram como explodir na boca do amante e deixar um azedinho no fundo.
Era somente uma menina naquela época mas sabia escolher seus homens, preferindo os famintos, aqueles que não pudessem se conter em meio a profusão de cheiros numa tarde quente. Conduzia-os com calma, fazendo-se de menininha distraída que trepava sem calcinha nos galhos mais altos da jabuticabeira. Até os mais santos davam vez ao tarado observando aquela bucetinha madura que voava de galho em galho. Depois se esparramava pela terra, lambuzando-se no caldo das mangas e ensinando como devorá-las até o bagaço. Nesse ponto eles já pouco pensavam, confundindo o que seria fome, ou calor e se deixavam também ser maliciosamente ingênuos... perdendo assim suas roupas ao caminho da pitangueira, onde colhiam o primeiro mamilo que se revelava numa confusão de cores similares. Já tão sedentos davam vez ao ritual, e era isso que a menina queria, para ela só existia amor na brutalidade da urgência: era enfim chupada, espremida, pisada e abocanhada até o último sumo para ser libertada.
Seus amantes, pobres meninos e homens rústicos, fugiam em carreira louca, atormentados por culpas e pudores enquanto ela permanecia...
Deixava seu sangue decompor na terra, germinando a próxima estação.


(Imagem de Marina Hanacek)