quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Teatro e eu


Quero muita merda esta semana! Merda aqui no melhor sentido da palavra, porque estou na semana mais teatral de todas que já vivi. Agora todo dia me pergunto: como pude demorar tanto assim para fazer teatro? Nasci no dia do teatro e tinha esse desejo muito forte na infância... era tão forte quanto o desejo de ser escritor. Mas vai entender esses caminhos tortos que acabamos percorrendo, inda mais para chegar num lugar que tem um sabor de origem, de lar redescoberto.
Sexta terá ensaio aberto (ou pré-estréia) da peça “Ao Vencedor, as Batatas”, adaptação do Brás Cubas do Machado, minha principal função é a música, mas estou atuando também, tenho inclusive dois papéis! E sábado participo da mostra do Teatro Vocacional, o projeto que me abriu as portas do palco.
O que será o teatro em minha vida? Complemento? Loucura passageira? Mais uma quimera? Atividade para o resto da vida? Sabe-se-lá... de qualquer maneira ele faz parte, seja como crescimento pessoal ou ampliação de minha visão artística...
Brindes de Baco para todos nós!
E mais uma vez: Evoé!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ladainha


Sônia veio essa noite e não me deixou dormir. Chegou entre sonhos, num deles eu acordava e lidava já com os problemas desta manhã, depois ela sentou-se em minhas pálpebras e firmou sua ladainha:
_ Deixe que esses demônios te cavalguem, querido. Antes sua dança desconcertada que a tentativa de quietude em hora errada. Tempos calmos sempre vêm... mesmo que não se entregue à tempestade, terá ainda muitas horas de tédio para degustar...

(imagem de Fuseli)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Syrinx


Uma pérola de Ryan Larkin, sobre música de Debussy...

Aí está o mito de Pã e Syrinx.

Dispensa qualquer palavra.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tic-tac


Ela não perdoava nunca, era sempre assim:
_ pisou na bola uma vez baby vá de retro.
Isolava-se porque todos teriam o seu momento íntimo de vacilo. Foi assim com a mãe que marcou friamente a cesária e a privou de seu direito cósmico de nascer em aquário, com o namorado que preferia vídeo-game, ou ainda o porteiro que tinha uma mania de não dar alguns recados por pura soberba. O que dizer então de pessoas que mal conhecia? No fim sabia que mais cedo ou mais tarde seria inevitável o erro e fugia para não detonar uma bomba que carregava na bolsa, escondida no bolso secreto, junto com poemas obscenos e um lado mesquinho de si.
A bomba era seu mais puro amor.


(imagem de Schiele)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Memórias de Jocasta: Final


Então delicadamente adormeci para sempre, sem sequer sonhar que nossa querida Patrícia teria a frieza de me dissecar e servir no jantar. Hedoni comeu com afinco sem perceber, supondo devorar alguma ave de sabor especial. Patrícia sorria alegando ingredientes secretos. Eu era devorada e sepultada dentro de meu grande amor... Em suas intenções mórbidas minha rival conseguiu me unir definitivamente a Hedoni, éramos então um só corpo e pela primeira vez pude enxergar por seus olhos. Então conheci o desprezo que tinha por ela... No último momento Hedoni suspeitou de algo, talvez sentindo que eu era também parte dele e começou a me chamar, exigindo que Patrícia me buscasse. Patrícia sorria e colocava os últimos pedaços no seu prato.
_ Aqui está o que sobrou de Jocasta.
O coração de Hedoni não suportou e senti a morte pela segunda vez. Patrícia observou o ataque como quem assiste a um show entediante e deixou-se estar abandonada na cabeceira da mesa.
Suspirou por sua eterna solidão enquanto eu comunguei plena com o amor e o infinito.


(imagem de Helen Burgos)

E aqui termina essa trágica, ou tragicômica novelinha, pelo menos surgiu de uma cena de humor negro. Dedico aos colegas da oficina de comédia, que não acompanham o blog, mas que auxiliaram na composição destes personagens, mesmo que o resultado aqui seja muito diferente da mini-cena desenvolvida na oficina. Prometo parar por enquanto com essa mania de novelas... acho que não tem dado muito certo (talvez abra uma exceção e publique aqui a novelinha Sweet Dreams que já está sendo publicada do fanzine do Goma).

domingo, 5 de outubro de 2008

Insônia Night Club

A noite era devorada devagar por uma madrugada de olheiras embriagadas. Lá fora Iansã e Xangô liberavam seu gozo em chuva. Lá dentro dos Parlapatões fui ouvir a Elke cantar... sua voz não é lá nenhum destaque, mas sua sensibilidade! seu carisma! sua extravagância! Não tem como negar o devido mérito a essa diva tão singular, que consegue ao mesmo tempo ser russa, negra, alemã, mineira, porra-loca, cult, sábia, criança, clássica, macumbeira, drag queen e ícone da cultura de massa desde os tempos do Chacrinha.
Um brinde com vinho e cachaça pra Dona Maravilha!
Evoé!

Essa canção belíssima faz parte de seu show, Do Sagrada ao Profano, é composição de Cezar Altai, seu ex-marido. Dentre as várias mensagens de seu show transcrevo o Manifesto Contra a Tirania, do século XV, de Etienne de la Boetie:


“Eu gostaria apenas de entender. Como pode ser que tantos homens, tantas cidades, tantos países suportem às vezes uma tirania que tem apenas poder que eles próprios lhe dão. Será que não sabem que não é preciso combater essa tirania: não é preciso anulá-la... ela se anula a si mesma. Basta que não se consinta em servi-la. Se nada se dá aos tiranos. Se ninguém lhes obedece, sem lutar, sem golpear, eles ficam nus, ficam desfeitos e não são mais nada; são como galho que se torna seco e morto quando sua raiz não tem mais umidade ou alimento. Decidam não mais servir e estarão livres. Não mais os sustentem e verão como o grande colosso, de quem se subtraiu a base, pode desmanchar com seu próprio peso e desmoronar.”

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Memórias de Jocasta: Capítulo 9


Então veio a hora de um jantar especial. Era aniversário de 50 anos de Hedoni, embora ele parecesse ter quase 100. Eu ainda era capaz de enxergar o brilho de sua mocidade. Patrícia prometeu um jantar inesquecível e naquele dia, pela primeira vez em tantos anos, ela acordou sorridente, brincalhona, diria até que iluminada. Pela manhã me preparou um caldo especial com aveia, canela em excesso e outras especiarias. Seria o começo de uma nova era? Eu também já estava tão velha, acho que era a anciã de minha espécie. Deste dia restou aquela manhã de um azul cintilante que emanava dos olhos de Patrícia, tão cândidos e carregados de pena, que me embalavam num afago macio. Senti amor sincero por ela enquanto o mundo se recoloria em branco, como foram as primeiras imagens de minha infância...
E a noite tivemos Civet de Lapin no jantar.

(Finalmente me apareceu um MAC postar, estou desde ontem sem conseguir acessar os sites do google, mesmo tentando em dois PCs... tive até medo ne não conseguir nunca mais. Imagem de Schiele)