quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Continho primaveril


Apesar de sementes tão selecionadas e de uma terra tão fértil o jardineiro não entendia porque suas flores vinham disformes. Às vezes o perfume até compensava, noutras alcançava uma cor exótica das pétalas, porém na grande maioria havia apenas a sombra de uma grandeza.
Estaria o problema nos vermes da terra escura ou no toque desastroso de suas mãos ansiosas?
Na dúvida, culpava Deus.


(imagem de Anna Pinchuk)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Memórias de Jocasta: Capítulo 8


Então vieram rapidamente os anos, e por fim a decadência de todos. Eu já não tinha a mesma habilidade do passado, tão pouco Hedoni ou Patrícia, cuja morbidez impregnava nossas platéias... por fim éramos nada mais do que um número exótico, apresentado em clubes esquisitos ou festas góticas.
Nessa época até esqueci que Patrícia tivera intenções assassinas, inclusive ela começou a cuidar de mim, como se eu fosse um passatempo de sua vida sem sabor. Então ela me alimentava, chegava a fazer pratos exclusivos para mim. Fisgou Hedoni também pelo estômago e ouso dizer até que sua dedicação à cozinha devolvia-lhe alguma alegria do passado glorioso.
Mas ela continuava impassível, sem sorrisos ou gracejos...

(imagem de Francis Bacon)


E não percam na próxima semana o penúltimo capítulo dessa novela, diria que um grande feito meu, mas não um feito literário, mas sim de minha perseverança em manter a idéia até o fim apesar da evidente impopularidade!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cada dia


Cada dia me traz uma roleta-russa muda, sem estrondo nem clique. Mas injeta na carne uma nova bala-semente.
Irromperá em pólvora ou pólen?


(Imagem de Andy Warhol)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memórias de Jocasta: Capítulo 7


Demorei um tempo a perceber que o ódio de Patrícia voltava-se todo para mim. Logo quando perdeu a mão tentei me aproximar, compadecendo de seu sofrimento. Mas então os atentados começaram! Primeiro foi no número do porta-jóias de louça, ela substituiu por um sem saída secreta, mas era de uma qualidade tão rude que não se quebrou com as marteladas, depois seus amigos que visitavam a casa quando Hedoni não estava e traziam rottweilers. Eu acordava com pesadelos em que sua mão zumbi me perseguia em momentos inesperados.
Com o passar do tempo fui me acalmando: crescia o amor de Hedoni por mim e Patrícia parecia desistir de suas armadilhas, até expressava indiferença. Eu continuava vendo aquela mão cadavérica, mas me convencia que era paranóia.
Não sabia da intensidade que pode atingir um ódio paciente e calculista.


(imagem de Goya)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Desabafo


Levo uma vida sobressaltada. Nunca foi isso que quis... mas faz parte desse momento que parece ser o ápice de uma transição. Transição para melhor ou pior? Ou transito para uma vida profissional mais digna ou para mais um retorno ao zero. Levo uma sobressaltada vida tripla porque as coisas ainda não se completam. De manhã sou publicitário, à tarde professor e de noite artista. Tudo isso para quê? Continuo sem o dinheiro necessário para uma vida simples em São Paulo. No meio da noite inda tenho que suportar as vozes de vagabundos preenchendo o espaço que era dos sonhos.
Na rua, caminhando com pressa e devaneio, uma voz sem corpo me ataca:
_ o que você quer?
_ ...
_ o que você realmente quer?
_ já não te disse tantas vezes?
_ mas o que você quer?

(espero que na próxima semana a situação seja normalizada, meu cotidiano possa finalmente respirar e voltemos à nossa programação normal. Grato pela compreensão! Imagem de Fuseli)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Curtas de meio de semana V


1 – Jocasta tem uma crise de estrelismo. Acorda na segunda-feira se dizendo estressada e diz que vai aproveitar o tempo seco pra molhar a penugem na praia. Promete continuar a novela sem falta na próxima semana.
2 – Me jogo em um monte de trabalhos ao mesmo tempo. Vamos lá, agüento de tudo: alunos saltitantes, coordenadoras kickboxe, novelinha pra um Fanzine de Uberlândia (que depois será publicada aqui também), teatro do Seu Machado, roteiro para vendedores de carros. Surge então o medo das mortes irônicas:
Morte irônica I – Ser atropelado pela mãe de meu aluno.
Morte irônica II – Ser atropelado pelo carro no qual estou fazendo um roteiro institucional e me fez passar momentos inesquecíveis lendo sobre motor.
3 – Dentro da Grande Montadora Multinacional um dos homens do Marketing me lança um olhar ferino, saca sua espada samurai e me corta em pedaços que não se juntam facilmente.
4 – Surto de terça: Não vou dar aulas e passo mais momentos inesquecíveis preso no trânsito da Teodoro Sampaio.
5 – Surto de quarta: tô doente? Não tô doente? Tô no CEU? Tô no inferno?
6 – Aguardando ansiosamente o surto de quinta!

(imagem da Tarsila)